30 de agosto de 2013

a mulher que passa


Todo o tempo que tem passa distante do mundo. Anda por lugares longes, sobe montanhas, desce alturas perigosas. E caminha entre árvores, e colhe flores e esquece as lágrimas. O pensamento flutua como as sombras das folhas e afunda como as pétalas no riacho. Perde-se em devaneios, distraída, e retorna a si, monótona, quando os dias tornam-se comuns. Não tem outro vestido e ninguém a quem agarrar-se. Por vezes enfrenta os escuros, abraçando as cores da saia. Palavras exageradas saem das pontas de seus dedos, e escreve todos os seus defeitos de herança no papel em branco. Só para fugir da punição das horas. Conhecida pela ingenuidade, vive debruçada no silêncio a indagar segredos, os pés descalços, as mãos vazias. E por não querer gerar despedidas, projeta-se sempre em abraços a desenhar os motivos da vida.

29 de agosto de 2013

o sol nascente



manhã,

silêncio e vento
azul, sempre azul

sutil e vivo
e esta  alegria

como o sol nascente

27 de agosto de 2013

Aprendizados



Naquela manhã, ela abriu os olhos e ouviu as gotas na janela. O céu era cinza e escuro. Um pássaro cortou as nuvens rapidamente e desapareceu. O cachorro marrom deitou-se no tapete da porta, atento aos rumores.

Na rua, as árvores debatiam-se nos seus galhos e  a enxurrada cobria o asfalto para logo desaparecer.

Olhando para a chuva, ela não podia impedir-se de admirar o dia. A ternura converteu-se em um sorriso generoso.

Era tempo de esperar  o sol das manhãs vindouras.

26 de agosto de 2013

brisas



aqui, branco é o vestido da fria e nevoenta madrugada

os pessegueiros em flor oram suas preces em pétalas

que vêm dos pequenos vendavais



e tu?

já acordaste de tuas brisas?

as ranhuras da pele



não importam o tempo
e seus cacos rudes
afiados
nas ranhuras da pele
a ti ofereço o meu silêncio